A vida às vezes nos aborda com uma série de fatos estranhamente correlacionados os quais não conseguimos entender. Uma série de coincidências improváveis que fazem até o mais inveterado dos céticos questionar-se, ao menos que seja por um ínfimo intervalo de tempo, a respeito de algum comando celestial para as coisas terrenas. Se são boas, nos sentimos protegidos; abençoados pela suposta presença de um anjo da guarda das probabilidades, que nesse momento está ali, viciando em prol da sua felicidade os dados da sua vida. Se são ruins... uma revolta nos assalta e nos portamos feito loucos; feito o Mel Gibson em sua teoria da conspiração. Tudo e todos contra nós. Pensamos o mundo um imenso cassino onde ganhar é impossível. Onde a roleta nunca está do nosso lado.
Mas o que vejo mais interessante são as coincidências inertes. Coincidências que não nos afetam diretamente; nem para bem, nem para mal. Disse diretamente porque essas coincidências acabam por nos atingir. Acabam por fazer sentir-nos cobaias, experimentos não muito bem planejados. Brinquedos. E o fato de atuarmos como brinquedos, faz a vida ser o moleque curioso. Aquele moleque que cutuca, que desmonta, que vira e revira. O moleque que queima a formiga com lente e joga sal na pele do sapo. Que coleciona bolinha de gude, que brinca de bem-me-quer e customiza o próprio pião. E dentre todas essas brincadeiras aquela que o moleque mais gosta de brincar é de pipa. Ora deixa o vento nos levar, ora dá guinadas. Às vezes nos levanta bem alto, tão alto que pensamos nunca mais podermos cair. Mas sempre aparece uma linha com cerol que nos ceifa, nos poda do nosso guia e entramos num turbilhão. Caímos bem longe no meio do mato, de onde tudo o que podemos fazer é esperar nosso moleque nos encontrar. E recomeçar, exaustivamente, toda a brincadeira.
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