sexta-feira, 12 de junho de 2015

Aos covardes

Não ousem vocês, atrofiados do pensamento, se compararem a nós, os libertários de visão! Vocês não têm talento para a vida. Vocês são um sopro indolente e asmático, com o qual alguma divindade medíocre depositou os resquícios ínfimos de sua vitalidade.

Alguns de vocês chegam até a ser grandes perante a sociedade, mas em sua totalidade são ridiculamente minúsculos dentro de si. Ostentam um falso título de sábios do mundo, mas têm medo de descobrir os motivos de suas palpitações insones em meio às madrugadas.

Vocês pregam o excesso de obediência civil. Vocês ignoram e aplaudem quando defecam em suas cabeças embasados a uma legislação corrupta, e são indiferentes às lutas reais para uma mudança efetiva da sociedade. Vocês têm preguiça do coletivo e só têm olhos para seus próprios umbigos. 

Vocês são demasiadamente urbanos. Vocês preferem o concreto e o metal à natureza. É que suas visões são constantemente fechadas pelos antolhos que vocês insistem em carregar, impedindo-os de contemplar as maravilhas ao seu redor.

Vocês são pobres de cultura. Vocês preferem o som do trator a uma bela melodia; uma briga de rua a uma peça de teatro; uma nota de cem a uma magnífica pintura (a não ser que esta retrate suas imagens - vocês são completamente apaixonados por suas próprias feições).

Vocês são mesquinhos. Vocês podem até doar seus dízimos para suas igrejas, mas jamais estenderam a mão para os famintos nas ruas nem amansaram seus ouvidos para escutar sinceramente alguma pobre alma somente necessitada de um pouco de atenção.

Vocês não têm empatia. Vocês procuram explicações e merecimento para todo e qualquer sofrimento alheio e procuram transformar a felicidade de outrem em também sofrimento.

Vocês não assumem sua sexualidade. Vocês se lambuzam em sessenta-e-noves libertinos, mas é o papai-e-mamãe que consideram benemérito de casamento.

Vocês são dogmáticos. Os dogmas não necessitam de raciocínio e economizam aos seus modestos cérebros a atitude de pensar.

Vocês não são o todo, quiçá a metade. Vocês estão longe de encontrar a plenitude em si próprios e necessitam dos outros para descarregar seus traumas desconhecidos e suas desilusões fúteis.

Vocês são invejosos.
Vocês são incompletos.
Vocês são dignos de pena.

Vocês são infelizes.

domingo, 7 de junho de 2015

Autoditadura

Se há luz ou treva
Quem dita sou eu
Se há paz ou guerra
Quem dita sou eu

Se há loucura ou sanidade
Quem dita sou eu
E o temor da meia idade
Quem dita sou eu

Quem dita sou eu
Os trilhos de minha felicidade
E se os vagões seguem em breu
É de minha mente a claridade

Quem dita sou eu
Os caminhos de minha consciência
O ornato do camafeu
Sou eu que o dou existência

Quem dita sou eu
Em toda a minha clarividência
Que vinda do Amor ou da Ciência
Jamais há de me permitir ao que não é meu