terça-feira, 21 de agosto de 2012

Sonhos

Sonhei. Sonhei quente e intensamente como há anos não sonhava! Mas eu sei quem ajudou-me. É Hermann Hesse e todos os anseios de Harry Haller por sua morte. Mas como ansiar pela morte se a temes, nobre Harry? É Hermínia e sua sobrenatural dádiva de saber todos os confortos necessários ao sofrido Harry. É Maria e sua volúpia. É o lobo da estepe e sua ira incontida, funesta, aterrorizante. É o saxofone que despeja jazz nos ouvidos eruditos e ranzinzas de Harry. São as belezas impossíveis e lisérgicas do doce Teatro Mágico.

É Jean-Paul Sartre e Pablo Ibbieta e seu medo da morte (também incontido por mais que quisesse contê-lo ante ao doutor belga "cheio de vida"). É Tom e Juan e suas cores acinzentadas pelo visível, e deliberadamente incontido temor pela mesma. É Ramón Gris e sua causa pela Espanha. É o muro que espera a todos e já começa a ressoar os estouros às cabeças acusadas de crimes contra a pátria.

É Jean-Paul Sartre e a normalidade chata do sr. Darbédat. A bondade e cumplicidade tenra e confortadora da sra. Darbédat. É Ève e seu amor pela loucura. Pierre e suas estátuas flutuantes, fazendo barulho como motores de avião!

Sonhei com uma fazenda macabra, pessoas estranhas, de comportamentos estranhos e nomes estranhos, e sua índole um tanto quanto dúbia. Sonhei que flutuava pelos ares, rodopiando numa velocidade alucinante e completamente fora de controle! Sonhei que caçava e era caçado. Sonhei com delírios sensuais maravilhosos e, por fim, sonhei ainda (isso foi de longe o sonho mais belo!) com a materialização do amor. Sim! E não há quem diga que está errado "esse conceito". Ele sobrevive somente em meu plano onírico e é certo que não deve nunca sair de lá.

Os sonhos, meus amigos, alimentam-se de imaginação que por sua vez alimenta-se quase que totalmente de livros! E com esta linda rede alimentar aproveitamos ainda para sair da chatice e das desventuras do mundo real. Afogar mágoas ressentidas e deixar de lado problemas mesquinhos, que sabe-se lá o porquê, tanto nos atormentam! É uma boa pedida, eu garanto!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vazio

E um vazio chega à tona. "O que fazer?" Pensa a mente. "Nada a fazer." Responde o corpo. E o coração rebate: "Por que viver?"

A alma observa atônita (em sua suposta eternidade) achando sem fundamento essas questões, sendo que eterna (supostamente) é.

E então sempre chega a vida (que é sempre quem decide esses impasses) e diz: "Segue, filho. Segue e não te incomodes. Que este vazio, de um jeito ou de outro, eu sempre hei de completar."

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Levanta, sonolenta flor!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para o mundo, pois o mundo mundo espera-te! O mundo e suas maravilhas. Vales encarpetados de verde pasto viçoso. Magnânimas montanhas e sua suntuosa imponência. Exuberantes lagos gelados e os picos mais elevados que o homem já pôde escalar. As torres mais belas, as muralhas mais impenetráveis e castelos de toda majestade também esperam por ti!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para a vida, pois a vida espera-te! Os peixes mais exóticos, vindos das mais profundas fossas abissais. As maiores baleias e sua gigantesca paciência. A graciosidade de todos os  coloridos pássaros da América do Sul e a austeridade dos norte-americanos. A velocidade e fineza dos felinos africanos também esperam por ti!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para o  amor, pois o amor espera-te! A temperatura das mulatas. A força dos alemães. A delicadeza dos franceses e as curvas das brasileiras. Os seios das espanholas. A tez dos australianos. As madeixas das japonesas e a rigidez dos siberianos. Os caprichos das tailandesas e os carinhos italianos. Sim, também estão a esperar-te!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para tudo isso, pois tudo isso espera-te! Acorda e liga o modem, e tudo isso estará bem à frente na tua tela!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Querido amigo

Pele de ogro, coração de menino. É o que nunca compreendi em ti. Não compreendo e nunca compreenderei. O motivo disso tudo é minha admiração por enigmas. E é o que te faz tão amável. Tão querido. Tão único. Suspendes cem quilos e rolas na lama. Afrontas inimigos e danças cirandas. Afugentas bandidos e corres de lhamas. O que é isso contigo? O que te faz assim? Muitos te amam e não sabem o porquê. Eu sei (pelo menos isso eu sei). És tu quem traz a paz. És tu quem traz a alegria. E espero que continues sempre assim: enchendo a vida de teus próximos de muito calor e muita fantasia.

Bem

É quando sentes-te em casa
É quando andas ao vento
É quando o sol não atrasa
É quando cessa o tormento

É quando danças a valsa
É quando é teu momento
É sensação "tudo passa"
É quando lês Chico Bento

E quando inflas o peito
A paz dá-te o sustento
É quando eu me aceito
É maternal acalento

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mal

É quando a solidão desola
É quando cessa a tormenta
É calmaria que assola
Será que o peito isso aguenta?

É quando tu cais no mundo
É quando nunca mais venta
É sensação dos imundos
É noite fria e cinzenta

E quando o breu te domina
O coração te condena
É suspiro doído
É morte bem lenta

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Explicações

Arte traduz a vida
Vida que leva à morte
Morte que traz a sorte
À vida que não valeu

Vale nem sempre é sombra
Sombra nem sempre é fresca
Fresca nem sempre é a fruta
Na sombra do pé que a deu

Deus não é tão amor
Amor quase é rancor
Rancor sempre traz a dor
E a arte daí nasceu