terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Amigo

Simbiose. Indefinível se não for simbiose. Pensamos igual. Sentimos (quase) igual (nem simbióticos sentem igual). Mesmos costumes, mesmos gostos, mesmas músicas. Mesmos sons, mesmas bebidas, mesmos paladares. Mesmos rancores, mesmos teores e (quase) mesmos amores. Quem disse que são opostos que se atraem? Essa é a grande mentira do mundo. Pelo menos para os homens. Cargas opostas se atraem, mas não; seres humanos não são cargas. Seres humanos são complexos. E até a busca do entendimento dessa complexidade nós temos em mesmo grau. Em mesma intensidade. Até em mesma virtude, eu diria. Nos entendemos. E quando brigamos, nos aceitamos: decidimos isso para nós. Porque aceitar-nos é infinitamente mais natural do que separar-nos; e nós sabemos disso. E naturalidade é o que todos nós devemos buscar. Ser natural é ser sincero. Ser natural é ser real. Ser natural é estar perto de um grande amigo. De um grande amigo de verdade.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Um caso do acaso

Entra um sol sorrateiro pela fresta da janela. Esses farrapos de luz não me darão energia suficiente para levantar. Para sair, sorrir... para solfejar notas de canção alegre. Há uma escuridão muito grande pairando por aqui. E envolto nessa escuridão não há luz que ilumine, nem calor que aqueça. Mão que afague não há também. Não há bichos nem plantas. Vida também não se pode haver. Sonho também não há. Sonhos são imagens, e imagens precisam de luz. E luz... já disse, é muito pouca. Mas ainda existem coisas. Existe a fumaça e o cheiro de tabaco impregnado nos dedos. Existe o álcool. O sabor detestável que fica na boca; o odor lastimável que exala através dos poros. Ambos relembrando mais desventuras ridículas de uma noite passada. Há a enxaqueca, a ressaca, a insônia. Há o mal-estar, a solidão e o marasmo. Um mau marasmo, aliás. Um marasmo agonizante, que ao invés de fazer-te esperar a vida, é como se fosse a morte que estivesses a esperar (e com um pouco de ansiedade, talvez).

Há de se inventar algumas coisas. A sorte. O acaso. Inventá-los ou simplesmente construí-los? Já tentei tantas vezes em vão... vale a pena continuar? É... acho que vale. De um acaso construído errado nasce outro acaso, que pode dar a luz a uma sorte ainda maior do que aquela que o "acaso" buscado poderia gerir. E nessa brincadeira de se construir acasos desconstruímos o mau marasmo que aos poucos nos mata (sim, a espera pela morte é a pior forma de morrer). E nessa brincadeira de se construir acasos trazemos possibilidades para a vida. E nessa brincadeira de se construir acasos acabamos por viver.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Noturnos

Quando é noite é que somos reais. Somos seres noturnos porque todos têm medo da luz. A luz é o que joga aos olhos verdades que ninguém quer mostrar. Julgar é coisa humana e a hipocrisia reina na Terra. Queremos parecer normais, coisa que ninguém é. Queremos seguir um padrão hipotético. Queremos ser respeitados. Mas respeitados por quem? Por quem é gente como nós mesmos? Por quem erra como nós mesmos, mas tem maior capacidade de dissimular? Dissimulação não é virtude. Respeito não se fundamenta em farsas. Mas ainda é de farsas que nós vivemos. Por quê? Porque é fácil atuar na vida. E todos (pelo menos um pouco) representamos personagens que não condizem a nós mesmos. Por quê?

Porque a hipocrisia reina na Terra e julgar é (infelizmente) coisa humana...



domingo, 9 de dezembro de 2012

Indagações e divagações

Até onde o errar é humano?
Até onde esse amargo é de fel?
Quando é que o amar vira amando?
Quanto custa a passagem pro céu?

Até onde o saber é vivido?
Quando acaba uma lua de mel?
A questão entre a dor e a libido
É que trazem um certo escarcéu

Escarcéu que destroça paragens
Escarcéu que retira o chão
Escarcéu que mistura imagens
Corrompidas de tanta ilusão

Ilusão do sofrer para sempre
Ilusão de tamanho prazer
Ilusão de um deus em seu ventre
Ilusão de morrer por sofrer

Se o sofrer é assim tão mundano
Também chamo mundano o querer
Que assim, num deslize de planos
Andam juntos e o alvo é você

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Ressaca mata a gente

Quando te sentires mal
Não quiseres deixar a cama
Com teu corpo todo em chama
E cabeça em estupor

Quando te sentires baixo
Com tuas mãos em tremelique
E um cheiro de alambique
Do teu ser a exalar

Quando te sentires amargo
Com o peito estupefato
E essências de sapato
A tua boca emanar

Lembra-te sempre das amigas
Seja a nova ou seja a Gina
Seja a Neusa ou outra "ina"
Jogue as mesmas na barriga
Senta e espera o mal passar!

É... ressaca mata a gente.

domingo, 25 de novembro de 2012

Difusão de "ideias"

É incrível como encontra-se enormes imbecilidades com tamanha facilidade na internet... Bom, isso todos nós já sabemos e há muito tempo, convenhamos. Mas a situação parece só piorar. Na época do Orkut era fácil encontrar comunidades de discussão onde a maioria das pessoas eram sérias e procuravam argumentos para o que se discutia. Pessoas escreviam e eram lidas com atenção, pois eram reflexões adultas, fundamentadas e pensadas, ou seja, eram reflexões de fato.

O que vemos hoje em dia é uma situação bem diferente, diria quase antagônica à anterior. Uma enxurrada de preconceitos e difusão de ideias alheias. Ideias alheias que na grande maioria das vezes tiveram nascimento de um preconceito fútil ou somente de uma inércia de ideais antigos e que já não mais são adequados à sociedade de hoje em dia. Perdeu-se a noção da necessidade de procurar saber sobre o que se discorre. Perdeu-se a noção da importância do debate. O que temos agora são pessoas que não querem se ouvir. Pessoas agora só querem falar, falar e falar. E sempre eu fico com essa questão na cabeça: quem alguma vez já teve algum crescimento pessoal falando? Gosto mais da moda antiga, onde você escuta seu interlocutor, reflete sobre seu ponto de vista e emite o seu parecer baseado em suas próprias experiências de vida, nos seus estudos, nos livros que já leu ou em outras discussões que já presenciou.

Não, mas isso é muito difícil hoje em dia... temos caminhões de informação sendo vomitados em nossas cabeças o tempo inteiro e temos que fingir que assimilamos tudo isso. Fingir sim, porque se continuássemos pensando da maneira como fazíamos antigamente não daria tempo de "passar o olho" por toda essa informação. E somente passando o olho por toda essa informação atrofiamos nossa capacidade de pensar, de buscar entender, de ser receptivo com diferentes ideias e acabamos perdendo a virtude de aceitarmos pessoas diferentes de nós. Vê-se grupos de discussão sobre religião, sobre drogas, sobre liberdade sexual, sobre política, filosofia, música... mas só vê-se os grupos; nada de discussão. São grupos de pessoas que pensam que pensam de maneira igual, mas na verdade não pensam. Têm um arsenal de informação não digerida em sua disposição, mas pelo fato de não pensarem sequer fazem bom uso do mesmo. Então por que continuam? Continuam porque a qualidade das ideias perdeu importância em detrimento da quantidade. Por isso vemos tantas postagens no Facebook, por exemplo, de citações de autores errados. E coisas do tipo "Dê-me um ponto de apoio e uma alavanca e moverei o mundo - Albert Einstein". Mas qual o problema se era Arquimedes? Ninguém sabe disso mesmo... o importante é que citei um cientista importante numa frase de efeito em meu status. E algum conhecimento sobre torque? Nada! "Isso é Física! É coisa de doido! Risos."

Acho que aqui já me fiz entender. Por final deixo uma música do Secos e Molhados que reflete bem a ideia deste texto. A música é de autoria do João Ricardo e descobri agora que o teclado moog da versão de estúdio (do Secos e Molhados) foi gravado por Zé Rodrix! Mas li isso na internet... será que é verdade mesmo?

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Sonhos

Sonhei. Sonhei quente e intensamente como há anos não sonhava! Mas eu sei quem ajudou-me. É Hermann Hesse e todos os anseios de Harry Haller por sua morte. Mas como ansiar pela morte se a temes, nobre Harry? É Hermínia e sua sobrenatural dádiva de saber todos os confortos necessários ao sofrido Harry. É Maria e sua volúpia. É o lobo da estepe e sua ira incontida, funesta, aterrorizante. É o saxofone que despeja jazz nos ouvidos eruditos e ranzinzas de Harry. São as belezas impossíveis e lisérgicas do doce Teatro Mágico.

É Jean-Paul Sartre e Pablo Ibbieta e seu medo da morte (também incontido por mais que quisesse contê-lo ante ao doutor belga "cheio de vida"). É Tom e Juan e suas cores acinzentadas pelo visível, e deliberadamente incontido temor pela mesma. É Ramón Gris e sua causa pela Espanha. É o muro que espera a todos e já começa a ressoar os estouros às cabeças acusadas de crimes contra a pátria.

É Jean-Paul Sartre e a normalidade chata do sr. Darbédat. A bondade e cumplicidade tenra e confortadora da sra. Darbédat. É Ève e seu amor pela loucura. Pierre e suas estátuas flutuantes, fazendo barulho como motores de avião!

Sonhei com uma fazenda macabra, pessoas estranhas, de comportamentos estranhos e nomes estranhos, e sua índole um tanto quanto dúbia. Sonhei que flutuava pelos ares, rodopiando numa velocidade alucinante e completamente fora de controle! Sonhei que caçava e era caçado. Sonhei com delírios sensuais maravilhosos e, por fim, sonhei ainda (isso foi de longe o sonho mais belo!) com a materialização do amor. Sim! E não há quem diga que está errado "esse conceito". Ele sobrevive somente em meu plano onírico e é certo que não deve nunca sair de lá.

Os sonhos, meus amigos, alimentam-se de imaginação que por sua vez alimenta-se quase que totalmente de livros! E com esta linda rede alimentar aproveitamos ainda para sair da chatice e das desventuras do mundo real. Afogar mágoas ressentidas e deixar de lado problemas mesquinhos, que sabe-se lá o porquê, tanto nos atormentam! É uma boa pedida, eu garanto!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vazio

E um vazio chega à tona. "O que fazer?" Pensa a mente. "Nada a fazer." Responde o corpo. E o coração rebate: "Por que viver?"

A alma observa atônita (em sua suposta eternidade) achando sem fundamento essas questões, sendo que eterna (supostamente) é.

E então sempre chega a vida (que é sempre quem decide esses impasses) e diz: "Segue, filho. Segue e não te incomodes. Que este vazio, de um jeito ou de outro, eu sempre hei de completar."

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Levanta, sonolenta flor!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para o mundo, pois o mundo mundo espera-te! O mundo e suas maravilhas. Vales encarpetados de verde pasto viçoso. Magnânimas montanhas e sua suntuosa imponência. Exuberantes lagos gelados e os picos mais elevados que o homem já pôde escalar. As torres mais belas, as muralhas mais impenetráveis e castelos de toda majestade também esperam por ti!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para a vida, pois a vida espera-te! Os peixes mais exóticos, vindos das mais profundas fossas abissais. As maiores baleias e sua gigantesca paciência. A graciosidade de todos os  coloridos pássaros da América do Sul e a austeridade dos norte-americanos. A velocidade e fineza dos felinos africanos também esperam por ti!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para o  amor, pois o amor espera-te! A temperatura das mulatas. A força dos alemães. A delicadeza dos franceses e as curvas das brasileiras. Os seios das espanholas. A tez dos australianos. As madeixas das japonesas e a rigidez dos siberianos. Os caprichos das tailandesas e os carinhos italianos. Sim, também estão a esperar-te!

Levanta, sonolenta flor! Acorda para tudo isso, pois tudo isso espera-te! Acorda e liga o modem, e tudo isso estará bem à frente na tua tela!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Querido amigo

Pele de ogro, coração de menino. É o que nunca compreendi em ti. Não compreendo e nunca compreenderei. O motivo disso tudo é minha admiração por enigmas. E é o que te faz tão amável. Tão querido. Tão único. Suspendes cem quilos e rolas na lama. Afrontas inimigos e danças cirandas. Afugentas bandidos e corres de lhamas. O que é isso contigo? O que te faz assim? Muitos te amam e não sabem o porquê. Eu sei (pelo menos isso eu sei). És tu quem traz a paz. És tu quem traz a alegria. E espero que continues sempre assim: enchendo a vida de teus próximos de muito calor e muita fantasia.

Bem

É quando sentes-te em casa
É quando andas ao vento
É quando o sol não atrasa
É quando cessa o tormento

É quando danças a valsa
É quando é teu momento
É sensação "tudo passa"
É quando lês Chico Bento

E quando inflas o peito
A paz dá-te o sustento
É quando eu me aceito
É maternal acalento

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mal

É quando a solidão desola
É quando cessa a tormenta
É calmaria que assola
Será que o peito isso aguenta?

É quando tu cais no mundo
É quando nunca mais venta
É sensação dos imundos
É noite fria e cinzenta

E quando o breu te domina
O coração te condena
É suspiro doído
É morte bem lenta

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Explicações

Arte traduz a vida
Vida que leva à morte
Morte que traz a sorte
À vida que não valeu

Vale nem sempre é sombra
Sombra nem sempre é fresca
Fresca nem sempre é a fruta
Na sombra do pé que a deu

Deus não é tão amor
Amor quase é rancor
Rancor sempre traz a dor
E a arte daí nasceu

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Flerte

É fato que estou adorando a proximidade. Sem palavras ou sorrisos trocados. Nada disso. Um triscar de olhares eventualmente e só. Mesmo assim alguma coisa me faz bem. Uma sensação de estranha completude. Estranha, sim. Ilógica. Diz-se por aí que não há racionalismo nos sentimentos. Realmente não há. Completude, sim. Estranha. E eu gosto.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Época de república

Saudades dos churrascos dos fins de semana. Quando saíamos de manhã cedinho, comprávamos as carnes, o carvão, alguma coisa que era novidade para todos e, claro, as bebidas. Arrumávamos tudo. Algum som popular como trilha. Daqueles que ninguém é fã, mas todo mundo conhece. E melhor: canta junto a berros hilários! Falta de compromisso até com a música. Compromisso mesmo era só com o bom humor! Amigos chegavam, bebiam, brincavam e desorganizavam ainda mais a casa por demasiado já bagunçada... os que eram de beber, bebiam. Os que eram de jogar, jogavam. Os que eram de fumar, fumavam. Ah! Mas todos comiam! E muito! Não é à toa que sobrepeso era muito comum por lá! Então, já cansados de tanta alegria, alguns partiam, outros encostavam-se por lá mesmo. Todos sorrindo no fim do dia com somente a certeza da felicidade e dos grandes amigos que naquela casa residiam.

domingo, 15 de julho de 2012

Amigos de verdade

Delícia mesmo é encontrar velhos amigos! Amigos de verdade, não meros colegas de trabalho , ou "conhecidos". Aquele tipo de amigos que você não vê há anos, mas quando encontra tem a impressão de que se viram todos os dias nesse longo intervalo de tempo.

Amigos de verdade que sempre mostram-se verdadeiros conosco. Com o mesmo tipo de postura perante uma determinada situação. Isso demonstra a honestidade. E, como uma troca, eles também nos  conhecem. Podem ver através de você e prever suas atitudes, justamente por conhecê-lo tão bem. Sabem se está bem e, se não estiver, preocupam-se com isso e tentam ajudá-lo com todo empenho. Não só um "complicado..." e um leve tapinha nas costas.

Amigos de verdade que nos fazem rir, nos fazem chorar, nos fazem pensar, nos fazem ouvir, nos fazem falar e até mesmo nos fazem calar nas horas necessárias. E se eles fazem isso é porque... não tem jeito, é porque existe uma grande parte de nós neles e uma grande parte de cada um deles em nós. Uma adorável simbiose em que um indivíduo não é nada comparado com este grande ente chamado "amizade verdadeira". Um ser infinitamente superior gerado pela ligação covalente de dois seres. Entretanto aqui não se compartilha elétrons: aqui compartilha-se vidas.

Delícia, sim, e deixo aqui uma dica: tente encontrar com seus velhos amigos. Coloque as "fofocas" em dia. Conte as novas piadas que aprendeu nesse tempo separados (o senso de humor também nunca muda).  Ria, brinque, chore. Seja egoísta no sentido de aproveitá-los ao máximo! Faça isso e depois que seu encontro acabar, sentirá que a vida vale a pena. Sentirá um grande bem estar e se sentirá uma pessoa melhor. Isso só soma, nunca subtrai. Faça isso! E depois me conte o resultado!


domingo, 24 de junho de 2012

Preguiça de rimar

Gosto de escrever
Mas tem dia... tem que ver!
Dá preguiça de rimar

Rima rica? Que frescura!
Que preguiça!
Eu não quero nem tentar

Saí da métrica
Meu deus! Mas... quem liga?
Não há ética ao criar

Repetem-se palavras
Palavras se repetem
Pro leitor eu enrolar

Já vou parando
Porque aqui já vou cansando
Tá me dando uma preguiça
Uma gigantesca preguiça:
Preguiça de rimar

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Beleza

Uma beleza sutil. Mas real! Muito real! Ela te ataca por dentro. Ela entra pelos teus olhos, ouvidos e narinas, chega ao teu âmago e explode por lá. Ela te contagia por inteiro. Outras belezas são vãs. Banais. São belezas que atacam-te por fora. São brutas, ignorantes. Obcenas. Bombardeiam teus muros para invadir-te, ao invés de conquistar o convite a tua morada. Uma beleza sublime, infantil. Essa é a genuína beleza.

domingo, 17 de junho de 2012

Amor pequeno

O peito aperta, a alma geme uma tristeza por alguém que já partiu
A raiva passa e entrega aquela angústia de um amor pequeno e vil
Amor pequeno, mas que traz um sofrimento de chorar sem ter porquê
Amor pequeno que parece mais um vício, um rancor ou um suplício
Uma lástima difícil, bem difícil de entender

Na solidão dos próprios erros cometidos a agonia é perenal
E os sentidos desses erros tão vividos sempre trazem grande mal
O corpo para, as mãos se fecham, as pernas tremem e não tem explicação
A boca seca, os olhos gritam, a mente voa bem pra longe
Na garoa, em um mundo sem ação

E sempre volta, embebido de saudade, o sentimento, o alarde
Do amor. Pequeno?
Não...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Ponto do Humor


Tudo bem, hoje estou bem ponto final, mas tá beleza. Tem dias que são assim mesmo. Algumas coisas dão errado, você fica puto e não quer saber de conversa. Mas tem outros em que as mesmas coisas acontecem, mas você está tão cansado que não tem forças nem para se emputecer: você só fica triste, cabisbaixo... só resmungando pelos cantos e se perguntando o porquê da vida ser tão dura com você. Esses são os dias reticências...

Então, cada humor de cada dia tem sua pontuação correspondente. Bem, eles são feitos para isso mesmo, né?! Passar a ideia de uma emoção, de um humor.

Continuando nosso raciocínio, temos o dia interrogação. Por que a vida é assim? Por que fulana não me dá ideia? Por que fui assaltado? Por que comigo? Por que eu? Por que? Esse também não é um bom dia...

 Já o dia  interrogação e exclamação é mais tranquilo. Quero ir à festa, mas devo?! Devo chegar nela?! Devo contar para ele?! É aquele sentimento de "quero muito, mas... será que rola?!".

Bem diferente do dia duas exclamações!! No dia duas exclamações nós somos cheios de certeza!! Você vai se dar mal!! Eu não fiz isso!! Eu digo não!! Eu tenho certeza que energia é igual a massa vezes velocidade da luz ao quadrado!! E mais situações parecidas...

Agora o dias três exclamações já não é bom. Não mesmo!!! Três exclamações é a pontuação do desespero. É a anunciação de uma desgraça ou o recebimento da anunciação. Não pode ser!!! Eu não acredito!!! Gol do Flamengo!!! Mas não só isso. As três exclamações são tão ruins que também representam o dia do barraco: Sua piranha!!! Seu viado!!! Claro que quando um barraco realmente está acontecendo, não como cumprimentos amigáveis que ouvimos hoje em dia.

Temos as combinações, também. Mas são pouco aplicáveis. Como a combinação reticências e exclamação. Essas são as pontuações do dia da culpa. O dia da descoberta do mal feito. O dia do flagrante. Darei um exemplo só e vocês entenderão: "Não é o que você está pensando...!" Seguido sempre por uma risadinha bem sem graça e cara de "fudeu!" É... é um mau dia, também!!

Mas o melhor dia de todos é o dia da exclamação solitária! Eu diria que é "o" dia! Você já acorda alegre! Cheio de disposição! Achando tudo bom e tendo certeza que o mundo é um lugar bom com as boas pessoas que vivem nele! Um mundo feliz, que precisa de conserto, mas que você mesmo fará de tudo para consertar! Esse é um bom dia... Tá certo que pessoas no dia do ponto final não gostam muito de encontrar com pessoas da exclamação solitária. Elas são bem chatas para as pessoas de ponto final, entendem...? (depois explico essa!) Então, exclamações, afastem-se de mim por hoje, porque como eu disse, eu tô de ponto final!!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Casa nova, moradores antigos

E então tu retornas. Tiraste todas as novas trancas somente com um sorriso e um passar de mão pelos cabelos. Entras em casa como se estivesses estado sempre aqui. Redecorei tudo em vão. Novas portas e janelas, troquei os móveis e seus lugares. Quebrei paredes. Mesmo assim facilmente encontras a cozinha. Comes um petisco. Tomas uma taça de vinho. Encontras o quarto com algum sentido sobrenatural. Despes-te. Tomas um banho longo e tépido e te deitas. Sonhas. Era a aura do teu sonhar na casa o único adorno que não consegui substituir. Agora sim! Casa nova, moradores antigos. E que teus sonhos embalem novamente a vida na nova casa.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sobre o mainstream e a chatice

Foi-se uma época, aqui no Brasil, em que fumar era um hábito comum. Comum não, diria até mais que aceitável. Quase um comportamento social (o que a cerveja sempre foi. A parcela da população que bebe porque realmente gosta é bem menor que o número de bebedores atuais). Acontece que, com o passar dos anos, pesquisas foram sendo feitas em torno dos males causados pelo cigarro, e campanhas de conscientização (já explico o grifo) conseguiram reduzir bem o número de fumantes no país.

Acontece que um cerco se instaurou. A caça às bruxas voltou à tona e, como todos adoravam praticar bullying na infância (por mais que não soubessem o nome do que praticavam), nós, pobres fumantes, caímos na berlinda.

O que era conscientização tornou-se arma de soberania na mão de alguns. O não-fumante passou a considerar-se parte "melhor" da sociedade só pelo simples fato de não fumar.

Eu, em particular, sempre fui um fumante educado. Nunca acendi um cigarro em nenhum restaurante nem em ambientes fechados que não houvesse a presença de outros fumantes e que a prática não fosse algo corriqueiro. As leis de proibição para esses tipos de ambientes não afetaram em nada a minha vida.

Existem tantas práticas erradas ou anti-éticas ou até mesmo que atentam contra a própria vida no Brasil! É raro ver pessoas recomendando a outras: "Não corra demais no trânsito", "Não coma muita gordura", "Não fique muito estressado", entre outras. E a batida "Beba com moderação"? Ninguém dá a mínima! Não que possa falar muito, pois também sou um grande bebedor.

Cigarro faz mal? É claro! Está mais que provado. Mas eu tenho CONSCIÊNCIA disso e não preciso de um chato me enchendo a paciência toda vez que quero dar umas tragadas.

Houve centenas de aumentos de impostos sobre os cigarros; estamos impossibilitados de fumar em praticamente todos os ambientes existentes; há universidades que já propuseram a proibição ao cigarro dentro do campus, em ambiente fechado ou aberto; somos alvo de todo o tipo de preconceito que possa existir e aguentar um ar de "sou superior a você, pobre coitado" dos não-fumantes a todo tempo. Faço um apelo, pois: se ainda fumo é porque EU GOSTO! Se quer muito salvar alguém, entre para a Igreja Universal e o salve das garras do Diabo (ou seja militante ateísta e salve alguém das garras da Universal), eu não ligo, mas me deixa fumar meu cigarrinho tranquilo, sim?!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O amor em FORTRAN 90

subroutine love

character*30 :: moralstate, lifestate
integer*4 :: pastsuffering

do while (lifestate == alive)

call fall_in_love
call unanswered_love

moralstate = disillusion

call distance
call time

moralstate = normal
pastsuffering = pastsuffering + 1

endo do

end subroutine love

Desilusão

O sentimento de mais pura desilusão acontece quando palavras em forma de estaca perfuram-lhe secamente o coração acalentado por esperanças vãs.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Não esquente...

Não esquente não: é só álcool e desilusão.
A desilusão faz o olhar parar,
O álcool o tira do lugar.
A desilusão traz as lágrimas aos olhos,
O álcool as faz rolar.

Não esquente não: é só a bombástica mistura de álcool e desilusão.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pesquisa

O âmago de uma questão, quando atingido, revela-se como um novo universo repleto de novas questões. Reside aí a beleza da busca pelo conhecimento: o clímax é atigindo não por encontrar-se as respostas, mas perguntas ainda não proferidas.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sem Título

"Esta noite pensei em você. Não sei que horas eram, nem imaginei o que estaria fazendo, mas pensei em ti no ápice do meu egoísmo (e vale lembrar que ao perceber isto também veio o descontentamento...).
Lembrei-me de você ao me ver sozinha, triste, vazia, e me perdoe, pois percebi que no auge da minha insignificância me veio você. Pensei: "Seria eu tão mequinha ou você tão importante?" Tive então a certeza: "Sou extremamente mesquinha e você imensamente importante." Então culpei você. Devia estar aqui. Você nunca deveria me faltar. E é em você que eu sempre deveria confiar.
A vida passa, as pessoas vão, outras vêm, mas às vezes quem realmente importa é quem sempre está longe... (e espero que bem!)
Te amo."

L. C. M.

Hospedagem

Bons tempos virão. Bons ares também. Não, não virão. Acabaram de chegar! Entraram pela porta da frente. Disseram: "Olá! Viemos para ficar!" Ainda não estão muito à vontade. Há copos e pratos sujos por toda casa. Os quartos estão muito empoeirados. E eles são muito alérgicos à poeira... nem um bom anfitrião fui para os novos moradores. Entretanto eles não têm escolha: terão de ficar. Consegui finalmente convencê-los de que não há para onde irem. Certamente gostarão de ficar. Eu gostaria de sua permanência. Gostaria não; gostarei. Porque eles não têm escolha: terão de ficar.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pensamento

"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos (...)" Marguerite Yourcenar

Assistindo "Meu nome não é Johnny" ontem me foi relembrada esta frase. Chegou em boa hora, até.

Quando era mais novo, sempre disse que a idade das pessoas deveria ser contada a partir dos 15 anos. Este pensamento me corrigiu. Na verdade todos tem uma própria idade para nascer. Para se fazer gente. Para se reconhecer humano.

E minha bolsa está difícil de romper, viu?!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Esquecimento

Eu me lembro de todos
Todos se esquecem de mim.
Se esquecem para onde fui
Se esquecem de onde vim.

Eu me lembro de todos
Todos se esquecem de mim.
Se esquecem da ideia solta
Se esquecem do não, do sim.

Se esquecem do riso farto
E das calças frouxas de brim.
Se esquecem do andar assado
Se esquecem do andar assim.

Eu me lembro de todos
Todos se esquecem de mim.
Se esquecem das vidas felizes
Que a maioria me deve a mim.