quarta-feira, 27 de julho de 2011

Horários ingratos

Depois da inconha do Michel Teló ter ido umas setenta e duas vezes no Faustão naqueles fatídicos domingos à tarde que não tem nem churrasco, nem outros programas mais interessantes, a Globo decide fazer um especial da Marina Lima. Obviamente não é domingo à tarde, mas sexta-feira depois do Jô é sacanagem! Às vezes eu chego da noitada mais cedo e assisto ou quem sabe eu arranje uma gripe e fique em casa... vou te contar, viu?!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Reflexões

Fatos fatídicos (acho essa expressão tão engraçada!) de ultimamente fizeram com que eu me isolasse na roça para clarear um pouco as ideias. Não me isolei, na verdade. Estive sempre com a minha irmã, que é oceano de compreensão e bondade. Ajudou-me muito nessas últimas semanas e serei eternamente grato por isso. Meu amor por ela já era eterno há muitos e muitos anos.

Na roça tinha um rio, muito verde, muitos cachorros, muita comida gostosa, muitas bebidas, e muitos, mas muitos carrapatos!

Entre as minhas reflexões, eu realizei que não há templo mais sagrado do que os braços da família. São pessoas nas quais a confiança transcende o próprio instinto vital, fazendo com que deixemos nossas vidas em suas mãos sem nunca titubear sobre o que poderia acontecer devido a essa ação. São pessoas que sempre quererão o seu bem, por mais que alguns acontecimentos não evidenciem isso.

Descobri também que deve ser humanamente IMPOSSÍVEL alguém não querer ser criança novamente. Ter aquela falta de responsabilidades (camuflada pelos pais, obviamente) que torna a vida tão mais saborosa! A paciência de Jó e a coragem de sujar a idumentária para brincar com os cachorros. A perenal vontade de nadar, por mais frio que faça! O medo e a crença em coisas e fatos inexistentes (inventados justamente para divertir seus criadores!). Mas o melhor é obter o carinho incondicional das pessoas à sua volta sem nenhum tipo de preconceito ou amarras sócio-culturais.

Realizei também que aconteça o que for, nunca vale a pena se desesperar! O desespero é o melhor mecanismo para destruirmos a nós mesmos e nos tornarmos extremamente desagradáveis às pessoas à nossa volta. Ainda mais se for pelos outros! Ninguém pode ser nem tão grande, nem tão mesquinho, nem tão fútil, nem tão cínico, nem tão hipócrita, nem tão incompetente, nem tão mentiroso, nem tão criminoso, nem tão desagradável a ponto de nos tirar do sério. Esse é um erro que jamais cometerei novamente!

Senti que a sorte não é um fator irrelevante para a vida; só devemos aprender a construir a nossa!

Aprendi também que quando nos sentirmos sozinhos, desamparados, sem perspectiva de futuro e sem garra, sem forças para enfrentar a vida que nos bate a porta com seus padrinhos nos chamando para o duelo, nessas situações nos basta a lembrança de que existem pessoas que nos amam. Existem pessoas que nos divertem quando estamos mal. Exitem pessoas que ligam para nos acordar quando temos um compromisso cedo. Existem pessoas que compreendem nossos motivos para atitudes absurdas. Existem pessoas que nos deixam chorar e secam nossas lágrimas.

Bom, sem mais delongas e sem mais reflexões, fico por aqui com aquela sensação de que agora as coisas podem e devem acontecer! E se não acontecerem, elas que se danem! Não preciso de "coisas" para viver mesmo...

Abraços a todos e tudo de bom!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Calabar: o Elogio da Traição

Como um aficcionado por música brasileira, há muito tempo tenho conhecimento e sinto muito apreço pela obra de Chico Buarque de Holanda. Bom, acontece que, por fatores desconhecidos, o contato com o que faria-me reconhecê-lo como genial tardou muito a acontecer. Somente nesse ano de 2011 tive o contato com o magnífico disco de 1973, "Chico Canta" (??? - explicações adiante), que é trilha sonora da peça "Calabar: o Elogio da Traição", de Chico Buarque e Ruy Guerra.

Nesse texto não tentarei dar uma aula sobre Domingos Fernandes Calabar, nem sobre o contexto histórico da sua existência, e nem sobre a ditadura militar, que foi o grande "alvo" da peça lançada. Isso encontra-se em qualquer livro de História do Brasil (por mais tendencioso que possa estar, mas que seja! Todos nós devemos trazer nossos próprios filtros de acordo com nossos próprios conhecimentos e vivências). Somente darei um pequeno embasamento para que vocês possam contemplar a grandiosa genialidade do Chico ao compor algumas das músicas que fazem parte da trilha sonora da peça.

Durante a invasão holandesa no século XVII, Calabar era uma peça estratégica fundamental para o exército português pelo fato de saber muito sobre a região local (Recife e redondezas) e muito sobre táticas do exército português. Quando Calabar decide passar para o lado dos holandeses, a disputa muda de figura e a invasão toma proporções muito maiores com a tomada de várias localidades. De qualquer forma o desfecho da história se dá com a captura e esquartejamento de Calabar, com sua exposição em praça pública, e a expulsão dos invasores.

A passagem de Calabar para o lado holandês é muitas vezes associada com o "patriotismo" de Calabar que supostamente teria a visão de libertação do "povo brasileiro" ante a tomada do território pelos holandeses, visto que o Brasil, pela ótica portuguesa, era declaradamente uma colônia de exploração. Essa é um ponto de vista dúbio da questão, uma vez que a existência de uma identidade de patriotismo com o Brasil é considerada muito improvável para datas tão remotas. Um motivo alternativo para a traição seria a melhoria da condição de Calabar enquanto comerciante (senhor de engenho).

Tendo feito essa "grande" explicação do que teria sido Calabar e sua representação, vamos à melhor parte: as músicas! O que o Chico fez com toda a história foi o entrelaçamento da história de Calabar com ficção embebida em conotações sexuais. A música que mais demonstra essa postura é "Cala a boca, Bárbara" (Bárbara era, de fato, a esposa de Calabar).




Ele sabe dos caminhos
Dessa minha terra
No meu corpo se escondeu
Minhas matas percorreu

Os meus rios
Os meus braços
Ele é meu guerreiro
Nos colchões de terra

Nas bandeiras bons lençóis
Nas trincheiras quantos ais, ai
Cala a boca - olha o fogo!
Cala a boca - olha a relva!

Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara [...]

Ele sabe dos segredos
Que ninguém ensina
Onde guardo o meu prazer
Em que pântanos beber

As vazantes
As correntes
Nos colchões de ferro
Ele é o meu parceiro

Nas campanhas, nos currais
Nas entranhas, quantos ais, ai
Cala a boca - olha a noite!
Cala a boca - olha o frio!

Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara [...]


Quanto ao nome do disco, "Chico Canta" não se faz um nome muito atraente para tal fim. O fato é que o disco teria o mesmo nome da peça, mas a censura não permitiu o nome "Calabar". Na verdade ainda proibiu a divulgação da proibição. Logo, colocando-se um nome meio sem nexo como esse, a intervenção da censura ficaria meio evidente aos olhos de pessoas um pouco mais atentas. Algumas pessoas dizem ser "aparentemente sem razão" a censura do nome "Calabar", mas na época da ditadura militar alusões a episódios da época monárquica eram tomados com muito cuidado. Agora pensemos numa figura representativa da traição em prol da mudança governamental para a melhoria da sociedade. Eu acho que seu nome atrelado a um disco na época da ditadura é uma razão muito válida para a censura, sim. Dessa forma aparece (agora, não sei se foi por causa da censura ao nome Calabar ou não) no nome dessa música a montagem do nome Calabar em sílabas iniciais das palavras: Cala a boca, Bárbara. Abaixo as capas do disco. Uma que seria a original com "Calabar" pichado de branco, e a outra que foi a que saiu com "Chico Canta" e uma foto do Chico de perfil no fundo.





Outra música muito interessante é a "Tira as mãos de mim" que, de modo fictício, retrata Bárbara, esposa de Calabar, no momento em que teria matado Souto (que foi a figura que traiu Calabar e o entregou aos portugueses numa emboscada), após ter tido um caso com o mesmo.




Ele era mil
Tu és nenhum
Na guerra és vil
Na cama és mocho

Tira as mãos de mim
Põe as mãos em mim
E vê se o fogo dele guardado em mim
Te incendeia um pouco

Éramos nós
Estreitos nós
Enquanto tu
És laço frouxo

Tira as mãos de mim
Põe as mãos em mim
E vê se a febre dele guardada em mim
Te contagia um pouco


Além de outras músicas, uma que encerra a história de modo memorável é "Cobra de Vidro", que retrata o esquartejamento de Calabar com a sua exposição e um aviso "Presta atenção", que seria por parte das tropas ao povo, como o velho aviso do que poderia acontecer a eles se incidissem em tal caso:




Aos quatro cantos o seu corpo
Partido
Banido
Aos quatro ventos os seus quartos
Seus cacos
De vidro
O seu veneno incomodando
A tua honra
O teu verão
Presta atenção

Aos quatro cantos suas tripas
De graça
De sobra
Aos quatro ventos os seus quartos
Deus cacos
De cobra
O seu veneno arruinando
A tua filha
A plantação
Presta atenção

Aos quatro cantos seus ganidos
Seu grito
Medonho
Aos quatro ventos os seus quartos
Seus cacos
De sonho
O seu veneno temperando
A tua veia
O teu feijão
Presta atenção


Um ponto, que pode facilmente ser uma viagem minha, é o fato do animal cobra-de-vidro não ser classificado como cobra, mas sim como um lagarto sem membros. Seria uma forma de sugerir que Calabar demonstrava ser o que não era, ou algo do gênero.

Curiosidades:

1- Em "Fado Tropical" a parte que se pronuncia a palavra "sífilis" no poema é cortada pela censura.
2- Em "Bárbara", quando da constatação irrevogável de uma relação homossexual entre Ana (de Amsterdam) e Bárbara, também ocorre a intervenção da censura.
3- Ana de Amsterdam é gravada completamente instrumental.
4- Ana de Amsterdam é uma personagem completamente fictícia (seu caso homossexual com Bárbara também, por razões lógicas).

Abraços e até a próxima!