terça-feira, 27 de setembro de 2011

Casamento

Não, eu não vou ao casamento. Eu poderia inventar quatrocentas mil desculpas para evitar essa conversa, mas prefiro a verdade. A verdade que deveria ter sido dita há anos e talvez trouxesse um novo rumo ao andar trôpego que tomou nossa carruagem.

Não, eu não vou ao casamento porque não conseguiria presenciá-lo. O casamento é cônjuge de vários funerais: o funeral do nosso alegre barzinho na esquina; o funeral da nossa casinha na roça em beira de rio; o funeral da nossa vidinha pacata e dos nossos churrascos nos fins de semana. E como bem sabes, eu não gosto de funerais.

Não, eu não vou ao casamento porque ele é o veneno para uma vida em mim pré-construída. Uma vida luminosa, ensolarada e muito bem arborizada e florida pelos canteiros. Uma vida de criança. Uma vida de doces e travessuras. E envenenada essa vida em mim, só me resta a atual. Uma vida gris, nublada e de muros pichados e janelas quebradas. Uma vida moribunda. Uma vida de ombros baixos e lágrimas escondidas.

Leva de volta teu convite e dá-o para outra pessoa. Porque não, eu não vou ao casamento.