Um covarde assalto! Um assalto a olhos armados: castanhos escuros. Arma comum, mas usada com destreza incisiva! Absolutamente letal, não pude nem arriscar reação. As pernas congelaram e a vida passou-me toda diante dos olhos. Dos meus e dos teus. Dos nossos. Agora o que era meu é teu. Essa é a triste sina do alvo do crime.
Um crime perfeito, por sinal. Completamente sem provas: os olhos não têm digitais, e nem tive tempo de anotar a placa das íris castanhas. Os lábios fartos e carmim são circunstanciais, imagino, bem como a cor de jambo. Coisa de profissional, já disse. Desferiu-me um cumprimento meigo, porém altivo, um leve toque de mãos aos ombros e o golpe final foi um sorriso com covinhas.
Depois de traiçoeiramente me ludibriar com uma conversa adorabilíssima foi embora, mas ainda me ameaçando com os cabelos pretos e o corpo escultural muito bem disfarçado no jeito largado, nas roupas comuns e nos chinelinhos de dedo. Coisa de ninja, levou-me praticamente tudo e só agora me dei conta. Aliás, me dei conta quando me peguei esperando ansiosamente pelo dia que virá levar o resto das coisas que deixou para trás.