terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Repaginada

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sábado, 19 de janeiro de 2013

Saudade

Saudade é um sentimento complicado. É muito mais que "sentir falta". E é diferente de nostalgia. Eu diria que o sentir falta é relembrar um lugar. É querer novamente algo que já não está ao alcance das mãos. Um sentimento baseado em espaço e em coisas materiais. Nostalgia, pelo contrário, é baseada no tempo. É querer viver novamente (ou ser saudosista a) uma época que não retornará. É relembrar velhas músicas, velhos costumes. É querer recuperar a inocência há muito tempo perdida.

Saudade é misto de tudo isso. Um sentimento nobre? Com certeza. Mas também bastante egoísta. Quando sentimos saudades não sentimos falta somente de uma coisa ou de uma época; sentimos falta do que essa coisa representava para nós em determinada época. Quando sentimos saudade, sentimos falta do que sentíamos por algo, e não a falta do algo em si.

Matar a saudade é resgatar esses sentimentos. É quando novamente experimentamos um sentimento antigo por alguma coisa. É observar novamente uma bela paisagem não visitada há anos, e que, por mais mudada que esteja, traz a mesma sensação de paz. É jogar o antigo jogo da infância e ter o mesmo sentimento de raiva ao perder 7 vidas no mesmo chefão que na infância também dava muito trabalho! É rir (de verdade!) das mesmas piadas e brincar das mesmas bobeiras com um amigo de muitos anos.

Mas a saudade também traz seus problemas... A saudade em muitos casos traz a decepção. Isso acontece quando não experimentamos o mesmo sentimento de antes. É quando a velha bela paisagem não transmite a mesma paz. É quando o jogo antigo parece imbecil. É quando o seu velho amigo já acha suas piadas e brincadeiras um tanto quanto idiotas e que vocês "estão velhos demais para isso". Daí vem a revolta e as críticas. Daí vem a não aceitação. Mas devemos pensar em uma coisa: tudo e todos podemos mudar. É claro que não estamos habituados a aceitar essas mudanças, mas fazer o quê? Essa revolta você deve voltá-la a si mesmo, pois é você que sente diferente agora. E sente muito por isso.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Armadura

Criamos todos nossas defesas. Empunhamos todos nossas armas. Mas quem acaricia com manoplas e espada, abraça com couraça ou beija com um elmo? Para amar é absolutamente necessário privar-se das defesas. Quando amamos, inconscientemente nos despimos. E quando nos despimos os menores movimentos nos machucam. As palavras mais tranquilas nos alvejam. E se é esse um falso amor, imediatamente vestimos novamente nossa couraça, nossas luvas, nosso elmo e empunhamos novamente nossa espada. Mas um amor verdadeiro revela-se em cicatrizes. Um amor verdadeiro as coleciona. Guarda cada uma delas como uma vitória e faz questão de se manter indefensável. Porque por defesa pressupõe-se distância. E com distância nunca há de se manter um amor. Passamos a prezar por nossas cicatrizes e mensuramos por elas nosso amor. Medimos esse amor por quantas cicatrizes podemos suportar. Todos nós temos amores de cinco, sete, quinze cicatrizes. Mas quando se ama de verdade os números não importam. Tampouco as profundidades das feridas. Feliz é o que tem seu peito aberto, suas mãos nuas e seus lábios expostos para alguém. E que, para esse alguém, jamais abrirá mão de mantê-los assim.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Envelhecer

Ninguém nasce forte. É necessário ter sido fraco para ser forte um dia.
Ninguém nasce sábio. É necessário ter sido tolo para ser sábio um dia.
Ninguém nasce bom. É necessário machucar pessoas para ser bom um dia.

Envelhecer para mim não pode ser algo menor que uma virtude. Envelhecer é uma arte. Envelhecer torna-nos arte. Muitos abominam o envelhecimento. Sinceramente eu não os compreendo. Na verdade os compreendo um pouco: são pessoas que não gostam de arte. Só que eu também não compreendo os que não gostam de arte. Só mudamos o foco; a questão continua em aberto.

Eu sempre gosto das melhores partes (e quem não?). E as melhores partes estão quase sempre próximas do fim. Abominar o envelhecimento é abominar o último gole da coca-cola, o último pedaço de bolo ou a última tragada do cigarro. É não chorar com a partida do Pequeno Príncipe, é não revoltar-se com a indistinguibilidade de porcos e homens na Revolução dos Bichos ou com as difíceis Vidas Secas. É não chorar com os beijos do Cinema Paradiso, não sorrir com a volta d'O Palhaço ou não revoltar-se com o fim do criador d'A Corrente do Bem.

E o mais belo de envelhecer é que é a única coisa que continuamos fazendo até o último segundo de nossas vidas:

Nunca seremos tão fortes que não possamos nos tornar mais fortes.
Nunca seremos tão sábios que não possamos nos tornar mais sábios.
Nunca seremos tão bons que não possamos nos tornar melhores.

Envelhecer: a arte das artes.