Entra um sol sorrateiro pela fresta da janela. Esses farrapos de luz não me darão energia suficiente para levantar. Para sair, sorrir... para solfejar notas de canção alegre. Há uma escuridão muito grande pairando por aqui. E envolto nessa escuridão não há luz que ilumine, nem calor que aqueça. Mão que afague não há também. Não há bichos nem plantas. Vida também não se pode haver. Sonho também não há. Sonhos são imagens, e imagens precisam de luz. E luz... já disse, é muito pouca. Mas ainda existem coisas. Existe a fumaça e o cheiro de tabaco impregnado nos dedos. Existe o álcool. O sabor detestável que fica na boca; o odor lastimável que exala através dos poros. Ambos relembrando mais desventuras ridículas de uma noite passada. Há a enxaqueca, a ressaca, a insônia. Há o mal-estar, a solidão e o marasmo. Um mau marasmo, aliás. Um marasmo agonizante, que ao invés de fazer-te esperar a vida, é como se fosse a morte que estivesses a esperar (e com um pouco de ansiedade, talvez).
Há de se inventar algumas coisas. A sorte. O acaso. Inventá-los ou simplesmente construí-los? Já tentei tantas vezes em vão... vale a pena continuar? É... acho que vale. De um acaso construído errado nasce outro acaso, que pode dar a luz a uma sorte ainda maior do que aquela que o "acaso" buscado poderia gerir. E nessa brincadeira de se construir acasos desconstruímos o mau marasmo que aos poucos nos mata (sim, a espera pela morte é a pior forma de morrer). E nessa brincadeira de se construir acasos trazemos possibilidades para a vida. E nessa brincadeira de se construir acasos acabamos por viver.
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